Apenas
alguns passos da casa de Twain e eu já estava na casa de Harriet Beecher Stowe,
a escritora a quem o presidente Abraham Lincoln disse: “Então você é a mulher
que escreveu o livro que começou esta grande guerra”. Ele se referia à Guerra
Civil Americana (1861 a 1865), que teve como origem a questão da escravidão,
com os estados do sul defendendo-a para suprir mão de obra para suas extensas
plantações e os estados do Norte defendendo a sua abolição.
Mas será
que um livro tem realmente esse poder sobre a guerra e a paz? Resolvi ler “A
Cabana do Pai Tomás” para descobrir. A história é de fato comovente, mostrando
a crueldade da escravidão, já começando
com o difícil diálogo sobre a venda de dois escravos: Tomás e um garoto, filho
de uma escrava. Enquanto o primeiro se entrega ao destino proposto pelo seu
dono, a escrava foge com o filho... É impossível não desejar de todo coração
que estes personagens consigam a liberdade...
De todas
as frases que me marcaram nesta obra, talvez a mais forte seja:
“Não se
pode transformar um homem numa coisa”.
Enquanto
caminhava pelo tranquilo quintal da bela casa de Stowe, imaginei o conforto em
que ela viveu. O conforto pode muitas vezes nos turvar a visão. Acomodar a
alma... Mas, então, por que Stowe não se acomodou? Por que, pelo contrário,
incomodou a muitos? Sim, incomodou, pois confrontou a todos com a horrenda
realidade da escravidão, incitando com suas palavras uma necessária mudança,
que de fato aconteceu. Aconteceu?
Enquanto
a guerra era travada, Lincoln assinou o ato de emancipação, abolindo a
escravidão, em 1863, onze anos depois da primeira edição de “A cabana de Pai
Tomás”, originalmente publicada em capítulos em um jornal abolicionista. Mas
por que mesmo depois de um século, sob o memorial erigido para homenagear aquele mesmo
presidente Lincoln, Martin Luther King ainda “sonhava” que um dia seus filhos
viveriam em uma nação onde não seriam julgados pela cor da pele, mas pelo
caráter?
E hoje?
Este sonho já se tornou realidade?
Palavras,
como as do livro de Stowe ou as do discurso de Luther King, podem sim nos inspirar
e mudar o mundo... Mas de nada adiantam se nada sentirmos diante delas... Pois,
ao contrário do que Stowe escreveu em seu livro, é possível sim nos tornarmos
coisas. Pois apenas as coisas não se incomodam com nada e nada sentem diante
das injustiças deste mundo...
Sejamos,
pois, humanos...
Próximo capítulo, 20/07: Ficção Suprema - Wallace Stevens.
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