quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O Profeta - Khalil Gibran





          Em Nova Iorque, caminhei até a 51 West 10th Street, em busca do profeta. Semanas antes, quando andava a esmo pelas ruas de Boston, onde a família de Khalil Gibran viveu seus primeiros anos na América após imigrarem do Líbano, eu já o procurava. Encontrei naquela cidade apenas o silêncio do bronze, em uma placa em sua memória. Mas foi em Nova Iorque que o barco buscou o profeta em seu retorno para a sua terra natal e era por isso que eu caminhava por aquela cidade, com a urgência de quem quer se despedir de alguém importante.
          Em 1931, Gibran partiu e, um ano depois, seu corpo descansou para sempre em um monastério no Líbano, onde suas palavras ainda proclamam: “Estou vivo como você, e eu estou de pé ao seu lado. Feche seus olhos e olhe ao redor, você me verá à sua frente”.
          Foi assim que encontrei o lar do profeta em Nova Iorque, na 51 West 10th Street. Diante de mim havia um grande prédio, de janelas simétricas e sem qualquer característica de ser, de fato, a casa de um profeta. Mesmo antes, quando o Studio Building ainda estava de pé, este sim, o prédio em que Khalil Gibran viveu até a morte e no qual, provavelmente, escreveu “O profeta”, eu não conseguiria enxergar qualquer traço de santuário. Sim, as paredes que abraçaram Khalil Gibran há muito não mais existiam. Mas, ainda assim, naquele lugar, viveu um profeta. E eu só consegui enxergar isso seguindo as suas palavras: “Feche seus olhos e olhe ao redor”.

Endereço do profeta
    
      E não é esta a magia de toda palavra? Naquela noite, silenciei todos os ruídos do mundo, pois queria ouvir somente as palavras de Gibran, lidas à beira-mar, na época em que eu morava em Caraguatatuba, com livros deste autor emprestados da pequena biblioteca da cidade. Li todos os volumes disponíveis de Khalil Gibran e a cada vez que eu os devolvia e retornava pela orla, eu parava por alguns instantes, para também observar o mar e ver se algum barco viria me buscar. Para onde? Eu não sei... O destino só se revela quando a viagem chega ao fim.
          Aquela noite, na cidade onde o profeta partiu, foi a última noite de minha peregrinação...



“E o que é cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se elevam e expandem e buscam a Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então dançareis”.
(Gibran Khalil Gibran, O profeta)

Manuscrito de Khalil Gibran em exposição no Memorial da América Latina (2013)






Próximo capítulo: Folhas de Relva - Walt Whitman (31/08/2016)









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